A busca por novos clientes é um desafio constante para advogados autônomos e escritórios em formação. 

No entanto, diferentemente de outras profissões, a advocacia é regida por normas éticas rígidas que limitam práticas de marketing, prospecção ativa e divulgação comercial. 

Neste artigo, exploramos em profundidade o que a OAB permite ou proíbe, estratégias éticas de captação, formas de atrair clientes com autoridade técnica e canais digitais compatíveis com a regulamentação atual.

Captação de clientes na advocacia o que pode, o que não pode e como crescer

1. O que é captação de clientes na advocacia

A captação de clientes é definida como qualquer ação deliberada, direta ou indireta, voltada exclusivamente à obtenção de clientela. Na advocacia, o conceito é sensível porque envolve a dignidade da profissão, o sigilo profissional e a não mercantilização da relação entre advogado e sociedade.

A captação indevida pode ocorrer quando há:

  • Abordagem direta a pessoas ou empresas oferecendo serviços jurídicos
  • Anúncios com linguagem persuasiva ou comercial
  • Ofertas de consulta gratuita com viés de fechamento de contrato
  • Intermediação por terceiros comissionados

A OAB entende que o advogado deve ser procurado, e não o contrário. Isso não significa, porém, que ele precise esperar passivamente: é possível atrair clientes com base em autoridade, visibilidade e confiança técnica, desde que respeitando os limites éticos.

2. Captação de clientes na advocacia é crime?

A captação em si não é tipificada como crime no Código Penal, mas é considerada infração disciplinar grave pelo Estatuto da OAB (Lei 8.906/94) e pelo Código de Ética e Disciplina da Ordem.

Art. 34 do Estatuto da OAB – Constitui infração disciplinar:

  • Inciso IV: angariar ou captar causas, com ou sem a intervenção de terceiros
  • Inciso XX: realizar publicidade com intuito de mercantilização

Sanções previstas:

  • Censura
  • Suspensão
  • Exclusão dos quadros da OAB (em casos reincidentes e graves)

Além disso, decisões do STJ e tribunais de ética estaduais reforçam a ilegalidade de ações como publicidade no Google com “advogado barato”, parcerias com despachantes, captadores de leads ou comissões por indicação.

Importante: Consultoria gratuita ou “plantões jurídicos” em troca de captação futura também configuram infração se forem utilizados como isca comercial.

3. Como captar clientes na advocacia com ética

Apesar das restrições, a OAB permite diversas formas de posicionamento que geram visibilidade e atraem clientela de forma legítima. O advogado pode se fazer encontrar, desde que não se ofereça diretamente.

Ações permitidas (segundo Provimento 205/2021):

  • Ter um site com conteúdo informativo
  • Manter perfis profissionais em redes sociais
  • Publicar artigos, vídeos e conteúdos jurídicos educativos
  • Participar de eventos, podcasts e entrevistas
  • Utilizar Google Meu Negócio com nome, área e localização
  • Distribuir cartões de visita com descrição técnica do serviço

O ponto central é que toda comunicação deve ser sóbria, discreta, objetiva e informativa, jamais apelativa ou comparativa.

4. Estratégias para conseguir clientes na advocacia

Com criatividade e técnica, é possível estruturar uma captação eficiente sem ferir o código de ética. O segredo está na construção de autoridade.

Táticas recomendadas:

  • Escolha de nicho jurídico: família, contratos, LGPD, previdenciário, startup, tributário etc.
  • Publicação de conteúdo útil: “Como funciona a pensão alimentícia?”, “Diferença entre MEI e LTDA”, “Regras para demissão com justa causa”
  • Participação em eventos locais ou online: falar sobre direitos, explicar mudanças legislativas, organizar lives educativas
  • Construção de reputação no LinkedIn jurídico: artigos, comentários técnicos e interação com pares
  • Relacionamento com contadores, síndicos, médicos, despachantes e outros profissionais que lidam com demandas jurídicas

Ao focar no relacionamento com a sociedade e na educação legal do público, o advogado atrai pela confiança, não pela venda direta.

5. Como prospectar clientes na advocacia (sem infringir regras)

A prospecção é o ato de buscar clientes potenciais. Na advocacia, ela só é permitida de forma não ativa e não comercial.

O que é permitido:

  • Escrever artigos para jornais ou blogs com assinatura profissional
  • Publicar e-books ou guias práticos jurídicos gratuitos
  • Oferecer newsletters com atualizações da área
  • Promover palestras e workshops educativos com sua marca

O que deve ser evitado:

  • Abordagem direta por WhatsApp, e-mail ou telefone
  • Compra de leads jurídicos
  • Anúncios do tipo “perdeu na justiça? consulte grátis”
  • Sites que geram leads e repassam por comissão (ex.: “plataformas de captação”)

A ética da presença substitui a agressividade da prospecção. O objetivo é ser lembrado quando surgir a necessidade, e não gerar a necessidade artificialmente.

6. Sites e canais digitais para atrair clientes com ética

O digital é o principal ambiente para posicionamento jurídico. Existem ferramentas validadas e bem aceitas pela OAB.

Canais recomendados:

  • Google Perfil de Empresa (ex-Google Meu Negócio): nome, área de atuação, foto, agendamento
  • Blog jurídico com SEO: artigos ranqueados respondendo dúvidas reais
  • LinkedIn: rede B2B onde autoridade vale mais que alcance
  • YouTube: vídeos informativos, entrevistas e explicações de casos genéricos
  • Instagram profissional: stories de bastidores, reels explicativos e lives com colegas

Dica: use sempre o CR e a descrição “advogado(a) inscrito na OAB nº xxxx” em suas páginas e bios.


Tabela comparativa: estratégias e conformidade com a OAB

EstratégiaPermitida pela OAB?Nível de eficáciaRisco Ético
Artigos e blog jurídicoSimMédio a altoNenhum
Perfil no Google Perfil de EmpresaSimAltoNenhum
Anúncio Google com palavras como “consultar advogado”Sim, com moderaçãoAltoModerado (cuidado com linguagem)
Lives e conteúdos educativos no InstagramSimAltoNenhum
Abordagem ativa via DM ou WhatsAppNãoAlto (irregular)Grave
Compra de leads jurídicosNãoMédioGrave
Indicação com comissão a terceirosNãoAltoGravíssimo

Dúvidas comuns sobre captação de clientes na advocacia

Advogado pode fazer anúncio no Google?

Sim, desde que o anúncio seja informativo e respeite a sobriedade exigida pela OAB. Expressões como “o melhor advogado” ou “consultas gratuitas” devem ser evitadas.

Divulgar nas redes sociais configura captação indevida?

Não. A OAB permite o uso de redes sociais para divulgar conteúdos jurídicos, desde que a linguagem seja técnica, não sensacionalista, e sempre com identificação profissional.

Advogado pode usar plataformas de captação como marketplaces?

Depende. Plataformas que apenas listam profissionais são permitidas. Já aquelas que distribuem leads ou cobram comissão por cliente angariado violam frontalmente o Código de Ética.

Oferecer consulta grátis é ilegal?

Não é proibido oferecer primeira consulta sem custo, desde que não seja usada como chamariz promocional em massa. O risco está no uso publicitário desse atrativo.

Posso mandar e-mail oferecendo meus serviços?

Não. O envio ativo de e-mails com oferta de serviços jurídicos configura prospecção indevida. É permitido enviar conteúdos a uma base voluntariamente cadastrada.

Atrair clientes na advocacia exige estratégia, consistência e, acima de tudo, ética. Ao entender as regras da OAB, respeitar os limites da profissão e investir na construção de autoridade jurídica, o advogado se destaca sem infringir princípios. Mais do que uma questão técnica, captar com ética é uma forma de honrar a confiança pública depositada na profissão.